Escrito originalmente no Medium em 20/09/2018
Ouvindo a Band News no caminho para o trabalho hoje pela manhã, me informo de mais detalhes sobre o registro de presença na Câmera dos Deputados de Adélio Bispo de Oliveira, no mesmo dia do atentado ao candidato à presidência — que estava então no interior de Minas Gerais. A introdução foi longa porque o contexto é confuso. E piora.
Não estava muito inteirada sobre o assunto — já basta o desgaste natural da eleição em si, quiçá da sujeira que envolve todo o contexto. Entretanto, os comentários na rádio chamaram minha atenção.
Seguem a ordem dos fatos:
- Foi divulgada a informação que Adélio esteve na Câmera por três vezes. A informação foi oficial e veio da Polícia Legislativa (PL);
- A primeira visita ocorreu em 2013, à época o mesmo era filiado ao PSOL;
- A segunda e terceira visita teriam ocorrido no dia 06/09/2018;
- A mídia sensacionalista explora de forma extenuante o fato (ok, cometi um pleonasmo) alegando que o Governo ou o Illuminati estão procurando um álibi para Adélio;
- O órgão que divulgou o fato inicialmente lança outra informação oficial alegando que ele pode não ter visitado a Câmera neste dia e que talvez tenha havido um engano;
- E em seguida divulgam que as investigações ocorrerão em sigilo.
Boechat na rádio considera tudo isso muito divertido, afinal onde está a coerência em divulgar uma nota oficial, contradizer e em seguida falar em sigilo? Nenhuma. Mas não vou me focar nos mandos e desmandos das esferas políticas e operacionais federais.
Quase chegando no meu trabalho, veio um insight: o problema foi de usabilidade.
Minha visão do que deve ter acontecido:
1. Um sério atentado a um candidato presidencial ocorreu. Vamos ver se o cara já esteve na Câmera:

2. O estagiário insere o nome do usuário e ele pode ter:
A) Apertado enter;
B) Errado o botão (quem nunca né?) e apertado em “adicionar” ao invés de “buscar”.

3. E pronto!

Não conheço o sistema que registra as visitas à Câmera, mas conheço inúmeros casos de falha na construção de campos de consulta e adição. Pior, em muitos casos após confirmar uma ação não é possível apagar e reparar o equívoco — talvez isto tenha ficado para a próxima versão em backlog.
E ainda para agravar a situação, o estagiário não contente da mancada, conseguiu por duas vezes cadastrar o usuário na listagem de visitantes à Câmera no mesmo dia. Pena que não liberaram detalhes do horário, porque poderia confirmar a teoria que ele primeiro caiu na condição A e depois na condição B dos cenários acima.
Então, ao contrário de tanta especulação sobre ocultação de provas, criação de álibis e sabe-se-lá-o-que-mais, a culpa pode ter sido apenas a falta de um UX no processo.
Observação: não sei se foi um funcionário ou estagiário, por isso o itálico quando o cito. A culpa quase nunca é do usuário — o que acredito ser este caso.